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Sydney Sweeney brilha em medíocre filme de horror

  • João Pedro Peron
  • 14 de mai. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 4 de jun. de 2024


Atuação de Sydney Sweeney é o maior destaque de Imaculada | Foto: Divulgação/Neon

Em entrevistas, a atriz Sydney Sweeney e o diretor Michael Mohan (Observadores) afirmaram terem escolhido uma abordagem muito diferente e inusitada para Imaculada (2024), o que se provou ser puro marketing. Nos primeiros dez minutos, a audiência já consegue identificar que será um típico filme de horror religioso, com clichês presentes no subgênero em que ele está inserido, o que, de fato, ocorre, mas que a obra consegue disfarçar na primeira metade.

A trama acompanha Cecilia (Sydney Sweeney), uma jovem freira estadunidense que se muda para Itália a fim de dedicar sua fé em um convento. Entretanto, suas atividades cotidianas são ameaçadas quando um segredo sinistro parece pairar sobre aquele ambiente. O longa estreia nos cinemas brasileiros  em 30 de maio.

Na primeira metade de Imaculada, a trama apresenta-se muito interessante, há um mistério que prende a atenção do público, embora siga o “típico estilo” de filmes do gênero, que funciona durante esse período. Os personagens são bem estabelecidos com destaque para a protagonista, que representa uma inocência e ingenuidade a respeito dos eventos malignos que presencia, o que faz com que o público simpatize com ela e, desse modo, acompanhe a história do ponto de vista da personagem. Entretanto, essa inocência não se mantém durante toda a trama, visto que a personagem possui um arco e, mesmo quando há mudanças em sua personalidade, a simpatia se mantém e não nos desapegamos da protagonista. Além do constante sentimento de conflito e suspense apresentados desde o início, quando nos perguntamos “o que pode estar errado?” e, quando conseguimos pistas, nos interessamos a desvendá-las. O problema é que a trama não consegue sustentá-las, nem mesmo com a ótima atuação de Sydney Sweeney.

A violência é algo constante em Imaculada | Foto: Divulgação/Neon

Muitos elementos são jogados para o espectador, de forma que entram em contradição com a própria lógica estabelecida, visto que algo que deveria representar uma grande ameaça à protagonista não influencia drasticamente a trama, de modo que, se não existissem, o enredo ocorreria normalmente. Muitas vezes, o mistério é deixado como plano de fundo para que “jumpscares” previsíveis possam tentar incomodar o público (para ser justo, há um no começo que funcionou comigo). Quando revelações são feitas, o longa cai na tão temida caricatura do gênero, expressada no desenvolvimento dos personagens coadjuvantes, que acabam em um terreno previsível que desmotiva e desmancha a tensão previamente construída.

Tudo isso é acompanhado de uma direção extremamente confortável, que se restringe ao padrão já pré-estabelecido durante a história do gênero. Apesar dessa não inovação, é funcional e consegue conduzir a trama de forma um tanto coesa, apesar de a todo momento nos perguntarmos se já não assistimos aquilo antes. Em contrapartida, um dos maiores acertos do cineasta é destacar a grande atuação de Sweeney, que, a meu ver, tem tudo para ser um dos grandes nomes de sua geração. Todas as reações que a personagem tem, além das mudanças de sentimentos com base no desenvolvimento de seu arco dramático são ótimas, totalmente condizentes com a atmosfera que o cineasta tenta construir. É interessante como o grito é, muitas vezes, exposto não de uma forma a demonstrar o medo e desespero da personagem ao observar algo sinistro, e sim, para representar a angústia e terror de quem está passando por tais situações. Álvaro Morte, que interpreta um padre no convento, também está bom, consegue representar um porto-seguro para a personagem, e para nós, além de outras camadas que vão aparecendo ao longo da narrativa, embora, creio que o personagem fique muito caricato ao final da história.

Temas como fanatismo religioso e desvirtuação de causas cristãs são abordadas pela obra e podem até proporcionar certos debates, mas nada novo no ramo, ainda mais pela forma como o longa trata de tais assuntos, visto que não os aprofunda, sempre deixando de pano de fundo, que atinge apenas os mais interessados e entusiastas por tais temáticas. Apesar disso, o questionamento “se Deus não nos impede de fazer algo, como poderia ser contra suas vontades?” é utilizado dentro da lógica de motivações dos personagens que geram uma série de causas e consequências, mas que não definem tematicamente a obra a ponto de nos lembrarmos que essa discussão sequer existiu.

Imaculada não consegue criar uma identidade própria | Foto: Divulgação/Neon

Outro ponto que me parece um tanto mal utilizado é a violência, que aqui se apresenta de maneira extrema em algumas cenas, mas que, tirando algumas, parece-me muito colocada apenas para chocar, de modo que o próprio diretor não sabia muito bem como filmar as atrocidades que seus personagens cometeriam. Claro que existem exceções, que não abordarei aqui para não entrar em território de spoilers.

A meu ver, um dos maiores acertos de Imaculada  é a sequência na qual a obra se encerra, a abordagem que Mohan escolheu em combinação com a atuação angustiante de Sweeney tornaram esse momento perfeito e condizente com o clímax criado, além de ser provocativa e levantar uma certa discussão a respeito das ações da personagem. O longa também possui uma boa trilha sonora, que combina sonoridades católicas com a atmosfera que tenta ser inquietante.

Portanto, Imaculada é um filme medíocre de horror religioso, que não foge do padrão de filmes do gênero, mas que será lembrado, talvez, pela ótima atuação de Sweeney e por seu emblemático e “polêmico” final.


Ficha técnica

Imaculada (Immaculate - EUA, 2024)

Duração: 89 minutos

Gênero: Terror, Mistério

Direção: Michael Mohan

Roteiro: Andrew Lobel

Elenco: Sydney Sweeney, Álvaro Morte, Benedetta Porcaroli, Dora Romano, Giorgio Colangeli

Montagem: Christian Masini

Cinematografia: Elisha Christian

Música: Will Bates


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