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Filme sobre um triângulo amoroso entre tenistas é um dos melhores de Luca Guadagnino

  • João Pedro Peron
  • 9 de mai. de 2024
  • 5 min de leitura

Atualizado: 4 de jun. de 2024


Rivais é o filme mais excitante do ano | Foto: Divulgação/Warner Bros. Pictures

Esse é o primeiro papel em que Zendaya, que também produziu a obra, como protagonista desde seus tempos de Disney. Embora a atriz já tenha participado de gigantes produções como Duna: Parte Dois (2024), Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (2021), sempre apareceu no papel de coadjuvante, assumindo o protagonismo propriamente dito apenas na série Euphoria (2019 -), que lhe rendeu dois Emmy's entre outros prêmios. O filme está em cartaz nos cinemas brasileiros, mas será que esse protagonismo, em encontro com o grande cineasta italiano, renderia uma obra à altura de tais nomes?

Dirigido por Luca Guadagnino (Me Chame pelo Seu Nome, Até os Ossos, Suspiria), o longa conta a história de um triângulo amoroso entre os tenistas Tashi Duncan (Zendaya), Art Donaldson (Mike Faist) e Patrick Zweig (Josh O’Connor). Essas relações despertam conflitos que se perpetuam por mais de uma década, até Art e Patrick finalmente se enfrentarem em uma final do ATP Challenger Tour.

Tensões e impasses sexuais permeiam toda a filmografia de Guadagnino e, em Rivais, é algo explorado pela incessante competitividade entre os atletas, que nutre as motivações deles. O roteiro de Justin Kuritzkes permite que eles sejam desenvolvidos entre esses conflitos amorosos, de forma que o enredo sempre busca o ápice de uma relação, que nunca chega, apenas é entregue às ansiosas e atritas disputas para restar um “vencedor”.

Esse desenvolvimento ocorre em dois níveis diferentes: é construído fora das quadras, com os protagonistas se conhecendo e divergindo entre si, mas é nas partidas em que é exposto e reforçado, pois, assim como diz Tashi no longa: “Uma partida é um relacionamento”, algo perfeitamente representado pelo cineasta. Os atletas não conversam durante os jogos, mas é nesses momentos em que estão mais próximos e que se expressam o máximo que podem, dizendo muito mais do que por apenas conversas. Todas as sequências em que Art e Patrick se enfrentam pelo troféu final demonstram um relacionamento que conseguimos entender pelos flashbacks que regem a história do filme, mas que apenas podemos tanger, de fato, com ambos tenistas jogando. Guadagnino consegue representar com excelência até mesmo conotações sexuais dentro das quadras.

Tensões sexuais são condutoras dos conflitos entre os personagens | Foto: Divulgação/Warner Bros. Pictures

Geralmente, Guadagnino trabalha de maneira lenta, ao deixar seus personagens interagirem de forma gradual, com câmeras estáticas, abordagem que se faz pouco presente em Rivais. O cineasta extrapola a dinamicidade de suas partidas de tênis para fora das quadras, visto que quase todas as cenas de conflito são expressas de duas formas, uma delas é a câmera se movimentar de forma panorâmica entre os personagens, como se acompanhássemos uma partida pelo ponto de vista da plateia e girássemos nossas cabeças à medida que a “bola”, ou, nesse caso, argumentos, cruzassem a “quadra”, o que torna a discussão mais dinâmica e tensa. Algo que é potencializado pela trilha sonora eletrônica e eletrizante, algo incomum na filmografia do cineasta, mas que adere perfeitamente à proposta de Rivais.

Outra maneira de retratar essas divergências é a câmera posicionada entre os protagonistas, de modo que assumimos o papel da “rede” em uma partida de tênis, observamos os protagonistas darem suas melhores “jogadas” e cuspirem verdades, mas não vemos necessariamente as reações de quem as recebe, visto que uma vez que a “bola” cruza o campo adversário, já é hora de uma próxima tacada. Entretanto, quem recebe as jogadas somos nós, que nos localizamos entre os personagens e reagimos a tais falas. 

Outro ponto muito positivo é a retratação do esporte, que, como em todos os filmes do subgênero, irá atiçar descontentamentos por partes de fãs, que esperam uma representação extremamente fiel das partidas e não entendem que se trata de um longa ficcional, e não de um jogo de tênis. Logo, as câmeras subjetivas e o uso de slow motion podem aborrecer alguns, mas, a meu ver, tornam o esporte ainda mais dinâmico, evidenciam ainda mais o relacionamento entre os jogadores, além de tornar diversas sequências muito estilosas e divertidas de serem assistidas.

Entretanto, na minha opinião, o ritmo dele não sabe algumas vezes quando diminuir e, principalmente, “como” diminuir principalmente na metade. Outro ponto que me incomodou foram os saltos temporais, que não seguem uma lógica cronológica, ora salta dois dias e logo em seguida voltam dez anos e depois volta uma semana, por exemplo. Apesar de todas as linhas terem um vértice em comum: a partida final entre Art e Patrick, algumas vezes conseguem dificultar a trama. Pois, ao invés de seguir uma certa lógica cronológica, escolhe-se destacar unicamente os arcos dramáticos; o que, por sua vez, falham algumas vezes ao destacar curtos períodos entre tantos anos de hiato entre eles.

Porém, a montagem fragmentada funciona muito bem para entendermos qual o relacionamento da partida final: “o que está sendo dito?” Desde o início do filme nos é informado que dois amigos se interessam pela mesma mulher, mas é muito mais do que isso, com dinâmicas de poder e muita manipulação, sendo muitas vezes metaforizados pelo sexo e tesão, que aqui não aparecem de forma expositiva, apesar dessa tensão sexual fazer-se presente durante todos os segundos de duração da obra. Guadagnino consegue representar essa conotação em diversas cenas que aparentemente não deveriam possuí-la, mas que ocorre de forma muito orgânica, deixando de ser “plano de fundo” para condutora da trama.

Se não é sobre tênis, sobre o que mais é? | Foto: Divulgação/Warner Bros. Pictures

Os arcos dramáticos dos três protagonistas mostram-se muito mais complexos do que os clichês de trisais que observamos no cinema. Isso é realizado, a meu ver, de forma que se assemelha a um triângulo equilátero: todas as interações entre os personagens são únicas e extremamente interessantes, de modo que floreiam diferentes facetas dos protagonistas, desde estratégias manipulativas com interesses egocêntricos, até mesmo desejos sexuais por motivos perversos.

O elenco é muito carismático, com o qual simpatizamos apesar de todas as manipulações, invejas e intrigas. Tashi é a mais complexa do longa, com suas camadas descascadas por Art e Patrick, de forma que possamos entender a tenista através deles. Ela, junto com Patrick, são os mais “atacantes”, os jogadores mais “agressivos”, o que ocasiona conflitos mais igualitários, com pesos semelhantes de ambos os lados, diferentemente do que ocorre com Art, que é mais defensivo. Suas relações com os outros dois são mais contrastantes, mas não significa que ele não joga também, apenas que possui um estilo diferente, mais silencioso, com estratégias que conseguem ser desarmadas por Tashi.

Portanto, Rivais eleva tensões sexuais à extrema competitividade que os atletas necessitam para sobreviver no esporte com muito estilo e complexas relações entre seus protagonistas, elementos que o tornam um dos melhores filmes de Luca Guadagnino.


Ficha técnica

Rivais (Challengers - EUA, 2024)

Duração: 132 minutos

Gênero: Drama, Romance

Direção: Luca Guadagnino

Roteiro: Justin Kuritzkes

Elenco: Zendaya, Josh O’Connor, Mike Faist

Montagem: Marco Costa

Cinematografia: Sayombhu Mukdeeprom

Música: Trent Reznor, Atticus Ross


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