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A polarização como forma de engajamento em “A Casa do Dragão”

  • Foto do escritor: Alan Alves
    Alan Alves
  • 14 de jun. de 2024
  • 4 min de leitura

Pôsteres da segunda temporada com a frase “Todos devem escolher” | Foto: Divulgação/HBO

Lançada em 2021, A Casa do Dragão é uma série derivada de Game of Thrones (2011-2019), que adapta parte do livro Fogo & Sangue de George R.R. Martin. A trama aborda a guerra civil travada entre os irmãos, Aegon II (Tom Glynn-Carney/Tyler Moffett) e Rhaenyra Targaryen (Emma D’Arcy/Milly Alcock), em uma disputa pelo cobiçado Trono de Ferro.


Contexto da trama

Tramas políticas e conspirações ainda são foco em A Casa do Dragão | Foto: Reprodução/HBO

A trama se passa 100 anos antes dos eventos de Game of Thrones, e somos introduzidos ao reinado de Viserys I Targaryen (Paddy Considine), o qual ascendeu ao trono devido a uma crise de sucessão. Visto que, Jaehaerys I Targaryen (Michael Carter) perdeu ambos os filhos, restando apenas seus netos para governar. Porém, sua neta, Rhaenys Velaryon (Eve Best), era a primeira na linha de sucessão, e o rei propôs um conselho no qual os nobres escolheriam seu governante, eles não aceitariam uma mulher no trono.

Anos mais tarde, Rhaenyra é nomeada herdeira do trono por seu pai, após a morte de sua mãe e, até então, a ausência de irmãos que pudessem ascender ao trono. Entretanto, quando Viserys se casa com Alicent Hightower (Emily Carey/Olivia Cooke) e tem um filho, a reivindicação de Rhaenyra passa a ser questionada. Então, o plano de Otto Hightower (Rhys Ifans), conselheiro do rei, ganha força. Inicia-se uma nova crise de sucessão, na qual há uma divisão entre apoiar o reinado de Rhaenyra, primogênita de Viserys, ou apoiar o reinado de Aegon, primeiro filho homem de Viserys. Essa divisão acaba por criar duas facções, os Verdes, apoiadores de Aegon, e os Pretos, apoiadores de Rhaenyra.

Sendo assim, quando Viserys morre, os Verdes coroam Aegon Targaryen antes que sua irmã sequer recebesse a notícia. Rhaenyra, no entanto, é coroada em Pedra do Dragão, sede da casa Targaryen. A partir desse ponto, começa uma busca por aliados de ambas as partes, pois o conflito entre os irmãos era inevitável.


A polarização na série

Em meio a disputa por poder, todos têm seus próprios objetivos | Foto: Divulgação/HBO

Diferente de sua antecessora, A Casa do Dragão não apresenta exatamente a mesma estrutura, sendo assim, não há múltiplos focos em cada região do reino protagonizada por um personagem. Em Game of Thrones, o público podia ver cada região pelo ponto de vista de determinado personagem, e em meio a disputa pelo Trono de Ferro, cada um deles tinha seus objetivos particulares, sejam eles a sobrevivência, a glória de sua família ou reivindicar o direito ao trono. Cada personagem trilhava seu próprio caminho e tinha seus próprios inimigos. Entretanto, isso era possível por um vácuo de poder, o qual permitia que diferentes personagens pudessem reclamar seu direito ao trono, ou possivelmente conquistá-lo.

O mesmo não ocorre em A Casa do Dragão, pois temos a Casa Targaryen como os únicos que podem ascender ao trono. Portanto, toda a disputa pelo poder é restrita a esse grupo, mesmo que os Hightower tenham seu envolvimento nessa trama. Dessa forma, os objetivos tendem por se alinhar, de ambos os lados o conflito se torna inevitável diante da sobrevivência, pois nenhum monarca gosta de alguém que ameace seu poder. De forma clara, Rhaenyra é a herdeira nomeada pelo rei, o que torna a causa dos Pretos justa e, ao mesmo tempo, transforma os Verdes em vilões. Então, por que um lado deve ser escolhido? 

Em Game of Thrones, adversários são criados por objetivos que se opõem  | Foto: Reprodução/HBO

Diante dessa pergunta, voltamos a Game of Thrones, pois era possível que o público, ao se apegar a um personagem, apoiasse sua causa e seus objetivos, o que dividia as escolhas e consequentemente permitia uma forma diferente de engajamento quando fosse comentado sobre o que aconteceu em determinado episódio. Além disso, essa estrutura privilegiava a ideia de que não existem vilões propriamente ditos, mas sim personagens com objetivos opostos, por exemplo: durante uma das disputas pelo Trono de Ferro, temos Robb Stark (Richard Madden) e Stannis Baratheon, cujos objetivos se opõem, pois Stark queria a independência de seu lar, apoiado por seus vassalos, enquanto Baratheon buscava o trono, mas não desejava um reino fragmentado. Ambos os personagens têm objetivos diferentes, mas que em certo ponto, os tornam inimigos.

Já em A Casa do Dragão, esse mesmo elemento não está presente, pois como já foi citado, Rhaenyra é a próxima na linha sucessão, o que torna a coroação de Aegon uma forma de golpe de estado. Portanto, com seus “heróis” e “vilões” bem definidos, a trama precisa criar elementos que também justificam a causa dos Verdes. Vemos isso na morte de Viserys, quando em suas últimas palavras, o rei devaneia sobre um sonho profético e cita o nome de Aegon I, o que leva Alicent a crer que o rei desejava seu filho no trono. Apesar disso, é preciso também colocar dúvidas quanto a causa de Rhaenyra, fazendo com que ela e seus aliados cometam atos controversos.

Na grande maioria das obras, os heróis tendem a ser bons, jogar limpo e não cometer crueldades. Existem personagens com tais características em ambas as séries, mas também há personagens que se afastam de idealizações de bem e mal, eles se aproximam muito mais das pessoas comuns e agem de acordo com seus próprios interesses, e dessa forma seus atos podem ser bons ou ruins. Nesse contexto, coloca personagens como Rhaenyra buscando o bem maior do reino, mesmo que seus apoiadores possam cometer atrocidades no futuro. Tirando o apoio que a personagem recebe dos espectadores, ao mesmo tempo, a série destaca seus erros, pois assim o público pode olhar para Aegon como uma alternativa a ela. Além disso, a série tenta amenizar ou justificar erros dos Verdes, pois não são erros apenas de Aegon, para que o público não crie uma aversão completa aos personagens, permitindo que recebam o apoio desse público.

Os responsáveis pela obra projetam nos espectadores o que se passa na nobreza de Westeros, no qual devem escolher seu governante e apoiá-lo. É isso que garante os comentários sobre os episódios semanais da segunda temporada, que estreia em 16 de junho na Max, e dá início à guerra civil Targaryen. Já que você leu até aqui, me responde uma coisinha, você é time Preto ou time Verde?


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