CINE UFU impulsiona a sétima arte em Uberlândia
- Câmara Escura
- 12 de abr. de 2024
- 5 min de leitura
Atualizado: 7 de ago. de 2024
Por meio de sessões abertas ao público, projeto aborda temáticas que estimulam a reflexão sobre questões importantes para a sociedade
Por Renan dos Santos
Criado com o intuito de revolucionar a experiência cinematográfica em Uberlândia, o CINE UFU busca impulsionar a diversidade cultural a partir das sessões realizadas no ambiente universitário. Em 2017, o projeto foi reformulado pela Diretoria de Cultura (Dicult) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), que adquiriu um acervo de 1.600 fitas VHS de filmes, produzidos entre 1916 e 2004, que anteriormente pertenciam à locadora Sétima Arte.
Assim, nasceu o primeiro evento do projeto, denominado CINE UFU: Mostra VHS. Os filmes, já catalogados e organizados por categorias, eram projetados nas paredes dos blocos do campus Santa Mônica, o que oferecia aos espectadores a experiência de um cinema ao ar livre. As sessões eram temáticas e incluíam clássicos do cinema mundial, como o renomado longa-metragem Belle de Jour (1967), dirigido por Luis Buñuel.
“Em um primeiro momento, esse formato teve uma repercussão interessante, tínhamos um público muito frequente, mas nós enfrentávamos algumas dificuldades. Por exemplo, quando o tempo não era favorável, com muita chuva ou muito frio, havia um impasse na exibição desses filmes ou uma redução considerável dos espectadores”, relata Alexandre Molina, docente e diretor de cultura da UFU.
Esse formato foi mantido até 2020, quando a pandemia obrigou à reformulação do projeto, e os filmes passaram a ser transmitidos de forma on-line. A partir do período pós-pandemia, o CINE UFU voltou a ter eventos presenciais, como a sessão do dia 25 de outubro de 2022, que apresentou a comédia brasileira Macunaíma (1969), dirigida por Joaquim de Andrade.
Integrantes
Em 2023, houve o ingresso de dois novos bolsistas, ambos estudantes da UFU. Guilherme Nakamura é estudante de Artes Visuais e bolsista desde junho. Formado em Cinema com especialização em Direção de Fotografia pela Academia Internacional de Cinema (AIC-SP), começou a gostar de obras cinematográficas e fotografia por influência de sua mãe, que é musicista e artista plástica. O bolsista tem interesse pela área de documentários, com a qual tem mais contato em seus trabalhos.
Tiago Rodrigues é estudante de História e bolsista desde outubro. A partir de sua adolescência, interessou-se pelo trabalho de diretores como Steven Spielberg e Martin Scorsese. Assim, o estudante participou de diversos cursos para se aprofundar nas áreas da teoria e crítica cinematográfica antes de ingressar como um dos organizadores do CINE UFU.
Além deles, a equipe é composta por Clarissa Melo, que faz parte da coordenação, e Camila Amuy, produtora, que conta com o apoio de Luísa Dantas como bolsista de produção.
Mudanças
Uma novidade foi apresentada a partir de 2024, quando as sessões do CINE UFU passaram a ser realizadas nos auditórios da universidade. O deslocamento foi considerado necessário principalmente por conta das dificuldades ressaltadas por Molina, pois, segundo ele, o ambiente fechado oferece maior conforto para os espectadores e a qualidade de áudio e vídeo é superior em relação à existente no modelo anterior.
Assim, também começaram a ser exibidos filmes que não faziam parte do acervo adquirido em 2017. Isso engloba aqueles lançados diretamente pelas produtoras e colocados no streaming (Netflix, Star+, Amazon Prime). Em relação à liberação de exibição desses produtos, o Artigo 29 da Lei nº 9.610 de 19 de fevereiro de 1998 registra a necessidade da permissão dos autores de uma obra para que ela seja reproduzida. A Motion Picture Licensing Corporation Brasil (MPLC Brasil), empresa de licenciamento de produções audiovisuais, determina que os filmes podem ser exibidos, desde que tenham pelo menos três meses de lançamento no mercado de vídeo doméstico, e essa determinação já está de acordo com a lei de 1998.
Com isso, o CINE UFU pode apresentar os filmes, desde que cumpram esse prazo. Segundo Molina, o projeto também se apoia na realização das sessões como evento formativo e pedagógico, o que garante o respaldo da legislação brasileira em relação às exibições de obras nacionais e internacionais.
Esquenta Oscar 2024
Além da mudança relacionada ao auditório, o CINE UFU também implementou uma nova atração neste ano: o especial Esquenta Oscar 2024. O evento apresentou quatro filmes que concorreram em algumas categorias da maior premiação do cinema, sendo eles: A Sociedade da Neve (Melhor Filme Estrangeiro); La Memoria Infinita (Melhor Documentário); Nimona (Melhor Animação); e Assassinos da Lua das Flores (Melhor Filme).
“Apresentar essas sessões é uma experiência muito gratificante no sentido de poder democratizar o acesso ao cinema, uma arte que ainda tem um difícil alcance. Nós temos acesso aos filmes, mas temos pouco acesso aos cinemas. Eu acredito que a ação de você ir às sessões é muito importante, pois é um ambiente de socialização e troca de experiências”, descreve Rodrigues.
A sessão de abertura do Esquenta Oscar ocorreu no dia 8 de fevereiro, com a apresentação do filme A Sociedade da Neve (2023), do espanhol J. A. Bayona (diretor de Jurassic World: Reino Ameaçado). O longa-metragem foi lançado pela Netflix, e conta a história verídica de uma tragédia que ocorreu na Cordilheira dos Andes em 1972, quando um avião que levava jogadores de rúgbi uruguaios para uma disputa no Chile colidiu com as montanhas. Nessa primeira sessão, no auditório 5O-D, também houve a exibição de todo o cronograma do evento.
A segunda sessão apresentou La Memoria Infinita (2023), da diretora chilena Maite Alberdi. O filme conta a história de amor de um casal chileno, Augusto e Paulina. Juntos há muito tempo, ambos temem seu futuro, pois, há oito anos, Augusto foi diagnosticado com Alzheimer. O longa-metragem foi distribuído pela divisão de documentários da MTV Entertainment Studios.
As animações também marcaram presença no evento especial. O filme Nimona (2023), dirigido por Try Quane e Nick Bruno, e lançado pela Netflix, também foi exibido no auditório 5O-D. Repleta de aventuras, a obra foca em Ballister Boldheart, um cavaleiro julgado por um crime que não cometeu. Para provar sua inocência, a única esperança do homem é aceitar a ajuda de Nimona, uma jovem transmorfa – que também pode ser o monstro que Boldheart um dia jurou matar. A trama do filme é baseada nas HQs do cartunista norte-americano ND Stevenson, e dividiu a crítica especializada ao alterar elementos pontuais da obra original.
Como o último encontro desse especial, o CINE UFU apresentou Assassinos da Lua das Flores (2023), dirigido por Martin Scorsese. Inspirado no best-seller de mesmo nome e baseado em uma história real, o longa apresenta o casal Mollie (Lily Gladstone) e Ernest (Leonardo DiCaprio) e retrata os misteriosos assassinatos que aconteceram na tribo indígena de Osage, uma terra rica em petróleo, localizada na região norte-americana de Oklahoma, em 1920. O filme ficou marcado como a exibição que teve a maior adesão do público. Ao todo, 55 pessoas compareceram ao auditório 5O-H.
Apesar do sucesso comercial e de audiência, os quatro filmes selecionados perderam suas respectivas categorias no Oscar. A cerimônia de premiação ocorreu no dia 10 de março.
Ao todo, 255 pessoas compareceram às quatro sessões do especial Esquenta Oscar 2024, o que registrou um recorde de público do CINE UFU e comprovou o sucesso do evento. Em março, por conta do Dia Internacional da Mulher, o projeto fez uma parceria com a Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (Proae) para apresentar filmes que não apenas homenageiam as mulheres, mas exploram suas experiências, lutas e conquistas, como o longa Escrevendo com Fogo (2021), dos diretores Rintu Thomas e Sushmit Ghosh. As sessões também contaram com bate-papos, nos quais foram discutidas diversas questões relacionadas ao papel da mulher na sociedade e no mundo.
Futuro do CINE UFU
Segundo Molina, a Dicult busca viabilizar a criação de uma sala de cinema da UFU. Próximo ao bloco da biblioteca do campus Santa Mônica, o edifício está em processo de construção e será o local exclusivo para as exibições do projeto. O diretor de cultura, porém, ressalta que também há o desejo de retomar as exibições ao ar livre, desde que sejam identificados períodos climaticamente favoráveis para a realização de mostras e eventos.
Sobre o crescimento do CINE UFU, ele finaliza: “Isso certamente é resultado do trabalho de toda uma equipe que, acima de tudo, é apaixonada pela linguagem cinematográfica e tem um carinho especial pelo projeto. Eu me sinto muito feliz, pois acredito que estamos conseguindo atingir o nosso objetivo de ampliar o acesso ao cinema”.
Como mais um incentivo ao comparecimento do público, as sessões geram certificado de participação para os estudantes da UFU. Molina ressalta que os organizadores estão sempre atentos a sugestões de filmes e eventos. Sendo assim, os docentes podem indicar produções de acordo com as demandas da comunidade acadêmica.
A Diretoria de Cultura também pode ser contactada pelo perfil @dicult no Instagram ou pelos e-mails cultura@proex.ufu.br e cineufu.dicult@gmail.com.
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Parabéns por essa reportagem, Renan!
Acredito que projetos como esse, que democratizam o acesso a arte, merecem cada vez mais atenção.