A influência da bomba atômica nas animações japonesas
- Alan Alves
- 12 de abr. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 2 de mai. de 2024

Nos dia 6 e 9 de agosto de 1945, os Estados Unidos colocaria um fim na Segunda Guerra Mundial de forma monstruosa: utilizando, pela primeira vez, armas com capacidade de destruição massiva nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, respectivamente com as bombas atômicas Little boy e Fat man. De acordo com uma matéria da BBC, estudos afirmam que o total de vítimas ao fim daquele ano pode ser maior que 210 mil pessoas.

Drama
Os filmes de drama trabalham com a representação da guerra, com a destruição causada nas cidades, além de temas que permeiam a sobrevivência e os estágios mais tristes e lentos da morte. Algumas animações de drama que representam a Segunda Guerra Mundial são os filmes Gen pés descalços (1983) e Túmulo dos Vagalumes (1988).

Gen pés descalços foi originalmente publicado como mangá por Keiji Nakazawa. O autor tinha seis anos quando o avião B-29, Enola Gay, sobrevoou a cidade de Hiroshima e lançou a primeira bomba nuclear. Com exceção da mãe, Nakazawa perdeu toda sua família, sendo seu mangá o relato de um sobrevivente. A animação dirigida por Mori Masaki leva a história para a tela contando de forma antibelicista as dificuldades da família do protagonista, Gen Nakaoka, antes e após a explosão da bomba.

O longa mostra de forma visceral a destruição causada pela explosão da bomba atômica, ao expôr os efeitos imediatos causados em suas vítimas no momento da explosão. O filme também demonstra as consequências que surgiram após o ataque, como chuvas radioativas e contaminação por radiação. Além disso, a obra também faz uma crítica ao governo japonês, que manteve-se lutando em uma guerra perdida, custando a vida dos civis que morreram pela fome ou pelos ataques inimigos.
A história também narra como Gen e sua mãe tentam sobreviver em um cenário caótico e desolador; a falta de alimento e principalmente a escassez de água são elementos constantes que acompanham o pós bombardeio. Além de desumanizar as vítimas, visto que o longa demonstra esse preconceito com alguns dos sobreviventes. Ademais, a obra tenta levar a um certo otimismo quanto ao futuro, mostrando como a vida pode recomeçar mesmo após as tragédias, algo que Nakazawa deve ter sentido em algum momento.

Túmulo dos Vagalumes, animação de Isao Takahata, conta a história de dois órfãos, os irmãos Seita e Setsuko, tentando sobreviver aos bombardeios no final da guerra. A obra trata a falta de recursos como desafio principal enfrentado na guerra, além de demonstrar uma certa inocência das crianças ao se distraírem com as luzes dos vagalumes.

O longa do aclamado Studio Ghibli, apesar de não falar diretamente sobre as bombas atômicas, carrega uma influência delas. Tornou-se uma certa marca colocar crianças ou adolescentes como protagonistas, ao invés dos adultos; pois, diferente dos adultos, as crianças não se corrompem diante do desejo pelo poder e ambições humanas que causam conflitos na Terra. As obras semelhantes a Túmulo dos Vagalumes, também mostram alguns adultos como personagens de pouca ajuda , visto que, com uma herança da guerra, os órfãos tinham de sobreviver sozinhos, realidade que também foi adaptada nas animações. O filme é baseado na experiência de Akiyuki Nosaka, autor da obra original, na qual conta em uma biografia parcial de como sobreviveu ao fim da guerra.
Os futuros distópicos
As animações beberam das fontes da destruição causada em Hiroshima e Nagasaki para imaginar como seria o futuro da humanidade se essas armas fossem usadas novamente. Além disso, é constante a reflexão sobre as consequências do mau uso da tecnologia, existindo certa semelhança entre a capacidade de auxílio que a tecnologia oferece a humanidade e a capacidade que tem de destruí-la.

Akira (1988), longa de Katsuhiro Otomo, é uma obra que imagina um futuro distópico, no qual, em 1988, Tóquio foi destruída por uma explosão desconhecida e reconstruída em uma cidade chamada Neo-Tóquio. A obra se passa no ano de 2019 e acompanha Shotaro Kaneda, líder de uma gangue de motoqueiros, e seu amigo Tetsuo Shima. Durante uma disputa com uma gangue rival, Tetsuo acaba sofrendo um acidente junto de uma criança com aparência de idoso. Os companheiros da gangue tentam socorrer Tetsuo, mas o exército já estava no local o capturando; o garoto então seria usado como cobaia em experimentos para criar humanos com poderes.

Akira faz paralelos com as explosões de Hiroshima e Nagasaki e observa com certo pessimismo os usos da tecnologia, além dos rumos tomados pelos humanos, já que, na obra, houve uma Terceira Guerra Mundial.
As novas obras japonesas buscam referenciar a tragédia das explosões que destruíram sua cidade, assim como a radiação, com um olhar atento sobre como seus usos podem resultar em impactos que afetariam a sobrevivência humana e o planeta.

Astro Boy (1963), de Osamu Tezuka, aborda os usos indevidos da tecnologia e possui três remakes, em 1980, 2003, além de receber um longa de animação 3D em 2009. Já na obra Nausicaä do Vale do Vento (1984), de Hayao Miyazaki, aborda sobre como uma guerra destruiu o ecossistema do planeta, deixando para trás florestas de gás tóxicos.
Portanto, a bomba atômica marca as produções japonesas de forma profunda, buscando preservar a memória das vítimas para impedir a repetição dos fatos, as animações japonesas são uma lembrança constante dos horrores da guerra e do uso da tecnologia com a finalidade de um extermínio massivo, além dos perigos que oferecem ao meio ambiente.
Política de uso: A reprodução de textos, fotografias e outros conteúdos publicados neste blog é livre; porém, solicitamos que seja(m) citado(s) o(s) autor(es) e o Câmara Escura.
muito bom!
Muito interessante a maneira como os japoneses criticaram a tragédia por meio da arte. Gostei muito das indicações!